domingo, 15 de dezembro de 2013

Parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia.








Segundo a Academia Sueca, o processo de escritura de José Saramago se traduz em "parábolas sustentadas em imaginação, compaixão e ironia", o que fez com que o mesmo fosse o ganhador do Prêmio Nobel em Literatura em 1998, sendo o único até agora em matéria de Língua Portuguesa.








"Cumpriram-se hoje exactamente 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não têm faltado comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, como a atenção se cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios, não é arriscado prever que o interesse público por esta questão comece a diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho contra esses actos comemorativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algumas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desaconselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais.

Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.

Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.

Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de Outubro, as primeiras palavras que pronunciei foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A todos torno a agradecer. E agora também aos escritores portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de hoje: é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam portanto."
 

José Saramago, 






"Apesar de seu primeiro romance Terra do Pecado ter sido publicado já em 1947, ele só começou a ter reconhecimento nacional e internacional quando tinha quase sessenta anos de idade. Sua ascensão ao ápice do establishment literário foi meteórica. De fato, durante os anos 1980 e 1990, nenhum outro escritor português obteve maior prestígio nacional e internacional. Esse dado foi consubstanciado pelos inúmeros prêmios importantes que Saramago havia recebido tanto em Portugal como no exterior, pela tradução de muitos de seus trabalhos em mais de trinta línguas diferentes e pelas várias edições de seus livros em Portugal e em países estrangeiros.

Em sua palestra durante a cerimônia de entrega do Premio Nobel de Literatura, o escritor mencionou a simples, porém significativa vida camponesa de seus avós, e reconheceu que ficava tão impressionado com seu avô analfabeto Jerónimo que ele o imaginava ser o mestre de todo o conhecimento no mundo"

José Ornelas,




Em 9 de Outubro de 1998, a Academia Sueca comunicou a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago "que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia".



Nenhum comentário:

Postar um comentário